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terça-feira, 26 de maio de 2015

Por onde, Onde, Que importância isso tem?

Por onde passo,
por onde passei,
por onde passarei,
que importância isso tem
se não passo de um nado morto da palavra?
Respiro por respirar,
durmo por dormir,
vivo por viver,
que importância isso tem
se as páginas que escrevo
são sílabas da noite que não amanhece,
são fibras de vento que não se ouvem?
Estes passos que ritmos não têm,
são sombras que se alugam às manhãs noturnas,
bocas seminais
que, no universo da vida,
percorrem as vielas secundárias
das aduelas urbanas,
erguendo os fusos horários
de um tempo inóspito.
Por onde vou,
por onde fui,
por onde irei?
Que matriz de sangue é esta
que se esvai por entre o medo de não o ter,
apagando o riso à garganta seca
e acendendo à luz elétrica do cacimbo
os faróis da claridade
que espantam o negrume do silêncio
e vestem ao corpo das monções
a brisa calculada de um encanto pueril.
Onde estou,
onde estive,
onde estarei,
que importância isso tem
se sou esta morte de fera viva.❞R Cresppo ☧


Bellaria, 26 de Maio de 2015. 17:12:02


por O Abre Aspas

Por quem Sois

Por quem sois, clorofórmio de amor
que desta vida nada leva a boca,
nem a cegueira que a oscula, oca,
nem a cerveja que a fisga co´ardor.

Por quem sois, trepadeira incolor
que toda entrançais por coisa pouca
no vespeiro que a traça esgana louca
ao amante do fausto e da dor.

Por quem sois, que tendes o dom da troça
que atiçais a quem por vós se roça
sob a razão do céu e do decote.

Por quem sois, que sendo farsa e chacota,
vil, derramais, estulta e devota,
o frenesim grotesco do fagote.❞R Cresppo ☧


Bellaria, 26 de Maio de 2015. 16:39:08


por O Abre Aspas

Etérea, a doçura prevalece

Esta doçura que me invade,
esses lábios de futuro
que passado não serão,
registam nos meus cabelos de tempo
esta vaga sensação de edílios
que se pressentem agnósticos
na ponte das margens inesperadas.
Viagem de emulsões,
forja de pulsações,
onde o ferreiro digital
forja a pressão táctil
que o corpo fecunda
para além de tudo o que é imortal.
Etérea, a doçura prevalece.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 26 de Maio de 2015. 16:07:34


por O Abre Aspas

quinta-feira, 21 de maio de 2015

As ideias que o Vento Espalha

As ideias que o vento espalha
são a sucata do perfume
que se sente na boca do ciúme
e no coração que falha
mal o amor encalha
entre o silêncio da dor
e o fogo do pavor
que arde na razão
onde tudo se escreve
com a mão que prescreve
o rito da ilusão
e a fronteira do não
que se ouve na boca do vento
e no grito do pensamento.
Fugaz como a luz da vela
mordaz como o pincel
que derrama sobre a tela
a claridade cruel.
Ideias que o tempo descobre
e que o breu da noite encobre.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 21 de Maio de 2015. 11:33:52


por O Abre Aspas

A Dolorida Cor de Um Ponto Final

Lindos são os faróis dos teus olhos
prata cintilante no rubro da noite.
De chocolate são teus lábios de morango
que sedentam a minha língua rugosa e áspera
com sonhos de viços leitosos.
Luarento é o teu corpo de ébano
fresco na nudez
suculento nos sumos da vida.
Bêbado de tanto te beber
vagueio exausto
por cada canyon do teu prazer invejável.
Sedosos são teus seios de sedução morna
que beijo com as carícias de asas fugidias
e lacrimoso é o meu corpo
em cada esquina do tempo
que dobro como quem vira a página
de um livro aberto e inacabado
esperando que cada ponto do teu deambular
pelos passos do meu olfato
não seja a cor dorida de um ponto final.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 21 de Maio de 2015. 10:12:44


por O Abre Aspas

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Pinceladas de uma Intimidade Liberta - I

O Sol anda tímido. A chuva bebe-nos o prazer do sangue amante. A Primavera que nos encanta é o fervor do desencanto. O corpo dissolve-se no pranto de um sorriso molhado. Pergunto às palavras que não escrevo por onde andam as metáforas desta opacidade que deslumbra a realidade que sou incapaz de vestir. Sou um sinônimo de sobrevivência na sístole diária da fragilidade humana. Recuso a frigidez molecular, afinando o diapasão de um concerto sem ouvidos, sem lábios que lhe definam os pensamentos. Neste dia, sem diagnóstico, o paladar do gosto que me prova, é um caudal de labirintos onde perco o ritmo da lucidez. No entanto sou lúcido para me descobrir na vigilância do inconformismo tranquilo. Durmo aos solavancos, sonho sonhos de me sonhar vivo e transparente nas asas de uma semente matinal. Sou corpo são em mente sã.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 14 de Maio de 2015. 14:46:24


por O Abre Aspas

Poema inútil

Cuidar do poema que adoece
É estrangular a prescrição do medo,
É arejar a docilidade do tempo
E libertar o fôlego saudável do seu tempero.
O poema estremece de prazer,
É amor que floresce
Por entre os lábios lamacentos do seu nevoeiro invisível,
Socorrendo a decrepitude natural
Do luto que o encobre,
Mal o vaticínio do desprezo
Vacina a pena criativa
Com o rubor feminino que o enlaça em sorrisos
Para que o seu espaço vital
Seja o enredo estimável da obra plena.
O poema é esta faca afiada
Que me rasga a sensibilidade,
É sangue que rompe o silêncio,
É lava que cega à noite,
É esta garganta de cicuta
Que amputa os delírios da raiva
Para que o parto da escrita
Seja o débil ódio da fome
A escravizar a agonia da sua pose fotogênica.
Fotograma a fotograma,
A objetiva oculta
Seduz o vigor da vivacidade,
Divaga por entre lampejos de fogo,
Revela os quadros mortíferos da sua tempestade final.
O poema vence a inutilidade de ser inútil.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 13 de Maio de 2015. 22:05:02


por O Abre Aspas

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Quem gosta de Pesadelos?

Vivemos no sonho de sonharmos o que nunca sonhamos. Desconhecemos a razão. Tentamos descobrir a incapacidade da nossa capacidade, mas somos leves demais. Não resistimos ao mais leve sopro de coragem porque não temos asas para não sermos as folhas incandescentes que se vão diluindo com o Outono das palavras mansas. Parecemos à fragilidade das gazelas assustadiças que povoam as imagens das consciências, aprisionadas aos amantes das terras áridas e secas. Temos sede, mas não sabemos que espécie de sede sentimos. Bebemos sonhos que sonhamos, mas não sonhamos com as celas que nos bebem as sedes que, incapazes, não deciframos, porque os livros que somos, são palavras de sedes que não se pontuam em dicionários de sonhos sem sinônimos. Inventamos sons para nos aliviarem a destreza de não sermos as gaivotas que aprenderam a fugir dos temporais, usando as asas que só os sonhos nos dão. Sonhamos que somos a resistência no paraíso da fraqueza e sorrimos à decadência, sonhando que plantamos a eloquência na aridez da vulgaridade e semeamos às raízes do tempo, as assinaturas dos nossos passos cadentes.
Tememos a fluência dos rios, mas não interpretamos os dialetos das nascentes.
Sabemos como acordamos dos sonhos, mas nunca aprendemos a conhecer, como e quando, eles nos ocultam as realidades das verdades que recusamos, porque, em vez de sonhos, são pesadelos. Pesadelos!? Quem gosta deles? Só o Freud.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 07 de Maio de 2015. 17:08:41


por O Abre Aspas

Não sei, mas sei que não sei.

Quem sou eu nesta terra de ninguém? Não sei. Ulysses a caminho de Ítaca, não sou. Não sei. Nem Kant me alivia a Razão. Alguém me espera nos cantos do amor? "Never More", diz-me o Corvo curvado sobre a minha falta de identidade humana. Que culpa se gera no ômega da indiferença? Não sei. Não sou réu da vida que se debruça sobre o vento e que apalpa as palavras do pensamento. Serei o desejo da noite mais obscura? Não sei. Sou demoníaco na lavra da mensagem, mas austero na impertinência da coragem. Que desespero é este que refulge na balança dos justos? Não sei. A espada da eternidade pende sobre a cabeça do fogo e os dedos de veneno saudável revolvem-se como serpentes de uma vingança que desconheço, mas Medusa não sou. Serei a esfinge de uma demagogia simplória abraçando a ditadura democrática que me asfixia? Não sei. Desconheço a farsa que me modela a razão, mas não me disfarço perante os demagogos a quem os hábitos do monge se perfilham como a clorofila das suas agonias mordazes. Quem sou nestas gerações de beat claustrofóbico? Não sei. Murmuro, assobio, e pergunto ao país, mas o verso nada me diz. Não sei, mas sei que não sei.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 07 de Maio de 2015.


por O Abre Aspas

Algures numa Taverna

Perdi a rota do meu destino, mas um caracol com os pauzinhos ao sol iluminou-me um trilho, cujo final era uma taverna, onde pedaços de memórias me saudaram com sorrisos e com todo um arco-íris de borboletas que me perfumaram com os hálitos frescos de canções a que o meu corpo não resistiu. E, eu que não sabia dançar, senti que os meus pés se moviam, sincronizados, com os ritmos das cores que embelezavam a taverna, onde cumprimentei as saudades do futuro com apertos de mão que o passado não soube apascentar. A taverna tinha tudo o que eu não tinha: a beleza dos sorrisos, a franqueza das ideias e os abraços que abraçavam cada distância, encobrindo estes corredores de mediocridade com os saldos dos meus pensamentos. Nesta taverna fui alimentado com todas as descobertas que o meu corpo escanzelado sempre suprimira, em devaneios de perturbações eloquentes. Aprendi a ter asas de borboletas que ignorava e lambi a todos os voos de pássaros que jamais conhecera, as refeições da minha imaginação perdida nos rudimentos de farsas humanas que eram representadas nos palcos dos teatros caseiros; encetei as viagens perdidas ao mundo secreto das magias que enriquecem a fraqueza dos corpos com os brincos sexuais das sensualidades, dos erotismos e dos orgasmos românticos.
A taverna não era um sonho, mas uma fonte inesgotável do saber, que a ignorância recusava, por ter medo de ser a fonte do seu medo.
Agarrado às conversas de todos os tempos, julguei que fugindo de mim mesmo, encontraria nas raízes que plantara, a encruzilhada de ideias a que nunca quis decifrar os códigos porque os teclados que dirigiam redes digitais, nasciam alucinadas com as realidades de uma qualquer negação.
Nesta taverna nada se nega, não se questionam as perguntas e há sempre o fruto das respostas que, conforme os sabores, racionalizam a aprendizagem de qual dos ventos é o jazz dos nossos desejos mais íntimos. Ao ouvir os cancioneiros tradicionais de uma ética popular, abandonei a taverna para ouvir os limites lunares da minha regeneração histórica, assobiando uma velha trova que atravessou a noite como um silvo de um comboio, que corria, tal como eu, ao encontro do seu destino.
Sem que a verdade me escapasse, dominei a solidão noturna e descarrilei, inebriado pela pureza das sombras noturnas. Adeus rota da ignorância, adeus casa sem destino, adeus a tudo o que resta ao que não vejo, porque descobri neste engano de rotas a solidez noturna da luz, nascida de um caracol com os pauzinhos ao sol.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 07 de Maio de 2015. 16:04:11


por O Abre Aspas

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Pingos de Chuva

Deslizam pingos de chuva didática
Pelo rosto velho das mortes diárias.
Secam ao sol nas vielas milenárias
E são filhos da mentira simpática.

Soam trombetas da traça profilática
Nos arneiros mentais das ruas agrárias
Onde só se plantam favelas viárias
Graças ao discurso da praga asmática.

Ouvem-se as gargalhadas das plateias
Nos vastos auditórios dos escolhos
Que encalham na febre dos repolhos.

Nota-se o aprumo das velhas teias
Que adoram as crises das suas ameias
E amam as orgias fanáticas dos piolhos.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 04 de Maio de 2015. 15:35:22


por O Abre Aspas

Acordar a dor da inocência

A distância não afeta
a fome de ser quem sou
um vulto que se infecta
com a raiva que negou
o vírus que nos detecta
o bobo que nos julgou
sem conhecer o profeta
que nada profetizou.

Acordar a dor da inocência
com a fuga de uma pureza
é vestir a cor da violência
co´a morte velha da beleza.

As farsas do quotidiano
são viveiros de cultura,
nacos do mito ufano
em versos de tortura
e réus de corpo insano
que viajam na tontura
de não verterem o dano
às facas do véu humano.

Ouvir as forcas do ocaso
na virgindade da nascente
é inventar o mortal prazo
à água de uma semente.

E nada será urgente
no berço da nossa idade
nem a coragem carente
nem a fluência da verdade
roendo o caruncho vidente
que se alarga à vontade
de cobrir o nosso poente
co´o caos da Humanidade.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 04 de Maio de 2015. 14:32:12


por O Abre Aspas