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quinta-feira, 30 de abril de 2015

Colméia de Palavras

Li o que li e li o que não li; agora me esqueço de ler o que não sei ler e o que não quero ler.
Por puro prazer. Criei uma colmeia de palavras e provei-lhe todo o gênero de sentidos; depois, abandonei-a num deserto de que não me lembro o nome. Um corvo todo vestido de negro pousou no parapeito da janela e com hábil maestria abriu-me a janela dos pensamentos; as palavras ao sentirem-se livres, fugiram de mim e eu nada fiz para recuperá-las. Hoje, ao cruzar a rua dos sentidos, não me iludo com o semáforo das suas paisagens. Sei que o vento reconhecê-las-á, mal o Outono as amadureça, ao anoitecê-las. Quando for o que não fui, a colmeia das palavras descobrirá, finalmente, a espécie de deserto que sou.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 30 de Abril de 2015. 14:06:43


por O Abre Aspas

terça-feira, 28 de abril de 2015

No alto da Torre da Verdade

Olhei para os ponteiros do relógio, no alto da Torre da Verdade. Não se moviam, nem para um lado, nem para o outro. Simplesmente inamovíveis.
O Sol, uma bola de fogo implacável, escouceava ao acaso. Por precaução, abri o guarda-chuva protetor. Tinha a noção exata do tempo que ia fazer. Tinha a certeza que o Sol ia chover, a qualquer momento. Os fios de luz intensa assemelhavam-se a picadas precisas que atingiam os neurônios com a distinção da morte da vida humana. Atravessei a rua com a lentidão de um camaleão, sem que houvesse simulação de cores. Habituara-me à sede insaciável, bebendo as minhas próprias lágrimas, que paridas de verdade, serviam-me de bússola na passadeira da vida.
Quando a chuva parava, secava o silêncio, e eu ouvia na brisa do vento, a eternidade dos anúncios às vidas breves. Olhei, de novo, para o relógio da Torre sabendo que era um painel, piscando os códigos indecifráveis de cada segundo que fustigava o ritmo do seu colapso. Não me sentia afetado, porque as florestas impenetráveis desta minha razão rugiam inconsoláveis, às células da inércia.
Por vezes, permitia que um naco de luz iluminasse recantos que eu próprio desconhecia habitarem na floresta em que me tornei. A floresta representava uma torneira que se fechava, fechando-me a fonte das rotas que podiam abrir as clareiras do conhecimento que me desconhecia.
O espanto apossava-se de mim, ao ver que, ciclicamente, o Sol não forçava a penetração desta floresta, o que produzia em mim uma espécie de frescura que eu abraçava como um amor escondido na noite do infinito.
Todos os dias subia, num estado de embriaguez vivificadora sufocante, ao alto da velha e decrépita urbe que não resistira ao colapso da vida. Deste modo ia gastando as memórias que me restavam e atravessava a minha floresta com todas as imagens que ainda povoavam os povoados que separavam os mistérios dos segredos. Acabavam por ser a fome da minha fome que estava reduzida ao silêncio que tudo consumia. Não havia sombras que me acolhessem em lugar algum. A floresta tornara-se num refúgio interior que eu reconhecia ser inútil, quando todo eu não fosse mais do que um poente irrepetível.
Cansado de ser um guarda-chuva de mim mesmo, deixei que o Sol queimasse cada pedaço da minha floresta e olhei, temerariamente, para aquela luz incandescente, sorrindo, e permiti que cada intimidade do meu corpo escorresse como lava e, sem que uma lágrima me bebesse, juntei-me às cinzas que eram o mar da realidade que se podia observar no relógio fossilizado, no alto da Torre da Verdade.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 26 de Abril de 2015.

por O Abre Aspas

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Resistir

Resistir
não é uma fome qualquer
é sorrir
a um corpo de mulher
e a um poema que se escreve
para se cantar quem quer
nevar a arte da neve,
esculpir
na dureza do aço frio
o corpo da ternura,
o braço longo do rio
que escapa à mordedura
do porvir
lambendo a raiva suja
com a dor da saliva
que tudo enferruja
e, fértil, cativa
quem sentir,
na palavra que luta
contra a sua morte
no silêncio que se escuta,
o vento, voraz e forte,
que a derruba
e, ágil, aduba
quem ouvir
o prazer da sua tuba.❞R Cresppo ☧

por O Abre Aspas

Sou silêncio de amor

Sacudo o capote da chuva
descubro o ventre da fragrância
na dança sonora do desejo
que liberta perfumes
e apaga ao veneno dos ciúmes
o fogo que morde a pele
que arde invisível
na substância nocturna do tempo.
Gotas molhadas de lágrimas
suam sementes de futuro
no terreno fértil da boca
que as bebem ansiosas
com a sensibilidade da sedução.
Seduzido
sou silêncio de amor.❞R Cresppo ☧

por O Abre Aspas

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Não há limites para os parasitas da pseudointelectualidade

Volto a afirmar-vos que não trabalho para ninguém, nem com os comentários que faço em algumas redes social, nem com os textos que crio neste e em meus outros blogues. Apesar disso, os parasitas da pseudointelectualidade continuam a apoderar-se do que não lhes pertence, alterando-lhes a autoria e, sem a menor cerimônia, alterando-lhes também o conteúdo a seu bel-prazer, abodegando o mesmo com suas imundícies paradoxais néscias e sandices diversas. Não há limites para as ratazanas putrefatas na profana contenda  e na soturna cruzada.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 24 de Abril de 2015. 14:59:26


por O Abre Aspas

No gosto do engano

No gosto do engano,
no desejo da fantasia,
no alforge da rapina
enrola-se o olhar
da púmblea mentira
que devora inteira
a ingenuidade patética
dos cúmplices diários
que vestidos de inocência
se enrolam,
prazenteiros,
ante a marginalidade
de uma seita larápia
que se esconde grotesca
na noite das facas longas.❞R Cresppo ☧

por O Abre Aspas

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Um paradigma brasileiro

É imperativo no Brasil hodierno a destruição de um paradigma:
.
ᴜʙɪ ᴠɪʀᴛᴜᴛɪ ѕᴜᴜѕ ʜᴏɴᴏѕ ᴅᴇᴇѕᴛ, ɪᴍᴩʀᴏʙɪᴛᴀѕ ʟɪᴄᴇɴᴛɪᴜѕ ɢʀᴀѕѕᴀᴛᴜʀ.
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/Quando a virtude não merece recompensa, a improbidade avança com mais atrevimento./❞R Cresppo ☧

por O Abre Aspas