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terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Nas teias de uma alucinação delírica - III - O ALAÚDE E EU

Estou sentado em um degrau de um dos prédios de uma rua do centro storico de Rimini. Do meu lado esquerdo, encostada à porta, jaz um velho alaúde; do meu lado direito, sobre o degrau, descansa uma garrafa de vinho tinto seco que vou bebericando de quando em vez. Os meus olhos, ligeiramente enevoados, acompanham o estranho movimento ondulante da rua. Tento pensar em algo que me distraia, mas os pensamentos, primeiro, aglomeram-se, incandescentes, depois, esfumam-se como se fossem argolas de fumo, construídas à partir de um cigarro que se imagina, de um tempo que se evapora por entre os passos tumultuosos de corpos que se envolvem com os ritmos da noite, em um frenesim de contos inacabados. Coloco o alaúde entre as minhas pernas, afago-lhe o corpo envelhecido pelo uso e permito que os meus dedos perturbem o sossego das suas cordas, sequiosas de propagarem pela noite os poemas sonoros do seu encanto. O alaúde e eu somos um corpo único, beleza das belezas musicais que bandos de jovens vão ouvindo, passando, ou sentando-se, à nossa frente, em um semi-círculo de jovialidade noturna. Os meus olhos fixam-se em uma janela de um prédio diante de nós. Abre-se, de par em par, deixa que os sons penetrem de mansinho pelos sonhos de um sono desconhecido. Dos meus dedos soltam-se notas que, de início, flutuam, para, depois, voarem como pássaros em busca dos seus limites despovoados, essa sensação de liberdade que envolve as pupilas do meu prazer e desfilam como imagens cinematográficas de um filme em que o argumento é este vagabundear sonoro pelas veias da vida. Há jovens que bebem, há jovens que dançam por dentro das suas memórias difusas, como que espelhando pela noite dentro as sombras vinícolas dos seus desejos mais ardentes. Uma espécie de magia negra apoderou-se do meu corpo que, lentamente, se foi diluindo até que, eu, e o alaúde, em metamorfoses de um tempo desconhecido, abraçamos o voo discreto do corvo de Poe que, sobre o parapeito da janela, segredou aos ouvidos da noite, "nunca mais". E nunca mais, eu, e o alaúde, somos.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 08 de Janeiro de 2023 - 15:47:10











por Renato Cresppo

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Pinceladas de uma Intimidade Liberta - III - O RITMO DA CIRCULAÇÃO

Soprando os sopros de fumaça de um Fortuna, um tabaco espanhol razoavelmente agradável, encontro-me sentado em um dos degraus da Astra Theater Bellaria, e enquanto apago a guimba no degrau inferior, ouço os sinos que anunciam o início de mais uma das suas sessões. O som transporta-me a um destes dias em que seguia no trem da linha Ferrara-Rimini, batia a noite o seu turno. A composição parou na Estação Bellaria. Dela, saiu uma jovem de cabelo encaracolado, blusa esverdeada e calça jeans. Parou defronte de uma das janelas do trem e, com o olhar inundado de tristeza, enviava, com as pontas dos dedos, beijos soltos de saudades súbitas, a saltitarem de frescuras imensas. Sem que pudesse evitar, fui contagiado pela tristeza e embalsamei, no meu olhar, Cupidos do tempo em que amei amores que não sei. A separação denotava desejos de uma união que se fortalecia na coragem de viver cada minuto, cada segundo, os pequenos e eternos prazeres de abraçar os abraços da ternura e de beijar os beijos das suas intimidades. Só se avalia um adeus quando as portas de uma despedida se abrem à solidão do silêncio. Parte-se para um destino concreto, embrulhado em palavras de segredos e mistérios que acondicionam o regresso ao parque dos sonhos que nascem e reconfortam o corpo entre os lençóis de uma ausência, distância imaginária que, em um dia qualquer, levantará o nevoeiro que paira sobre a fluidez de uma chama amante que amanhece ao entardecer.

Estas sequências de uma peça de teatro que se repetem em muitas sessões, são, inúmeras vezes, pausas de um tempo que escapam aos seus enquadramentos, ameaçando as debilidades da sensibilidade amorosa com a secura de paisagens que amolecem em transições de luz baixa, transcendendo as realidades com os subúrbios dos esquecimentos, dos abandonos que ferem e desarmam todo um futuro que, subitamente, é passado.  O trem reacendeu a sua circulação e, com ele, recomeçou o ciclo das vidas dos que nele ficaram. Observei a agilidade do tempo que, no seu bojo, transporta milhares de atores que representam o seu papel neste grande palco da vida que veste o universo com as partículas da nossa bioeletricidade. Somos amantes, amados ou não, porque esse é o ritmo do nosso coração.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 24 de Janeiro de 2023 - 15:11:55











sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Oblívio no engano VI - Nas viagens querençosas

A manhã é um verbo hesitante. A métrica é todo o tempo que o devora. Os seus olhos, perdidos na emancipação do dia, revelavam as carícias do seu segredo carnal. Verdes, como uma campina viçosa, as suas pupilas despertaram, em mim, uma súbita sociabilidade de tudo ser para que o seu corpo elegante, os seus lábios, rubros e sóbrios, se esmerassem em um sorriso acolhedor. A substância da vida é uma clara surpresa quando nos coloca diante de um momento festivo que pousa sobre a criação dos pensamentos e desabrocham no sentido estético de um olhar que me absolveu de todos os prantos que o silêncio consome. Acariciei o olhar, despi-me do seu brilho e, viajante urbano, viajei afetuoso.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 20 de Janeiro de 2023 - 14:32:26











terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Lampejo Diário - XVIII - PINTANDO PALAVRAS

A vida não cansa, descansa
Nos batentes da dor.
A sua caligrafia é uma ironia,
Gasolina de longas palavras
Que se gasta em viagens de medo,
E, em noites de amor,
Se a nudez do cheiro
For um neon de emoção
E um lustro de tradição
Na morte da solidão.
Os batentes abrem-se à cor
E o quadro do amor
Escurece a rotina da idade
E acende a chama da eternidade.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 17 de Janeiro de 2023 - 14:55:56











por Renato Cresppo



sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Pinceladas de uma intimidade liberta - II

À noite, deitado na cama, os dedos, ágeis, dedilham, amorosos, as cordas sensíveis da foz dos veludos rios que, um a um, desembocam num infinito de oceano. Uma miríade de sons desconhecidos sussurram no sossego da noite. Embalado, afago, num deserto de dunas, vales e depressões, e, em cada eco, as diásporas do teu hálito em notas de bálsamo, escorrendo por cada nota do teu concerto, do prelúdio, por entre uma dramática abertura, um scherzo que emenda-se à fuga, por cada movimento precisamente conduzido, na maestria de um maestro do tempo, contando cada batida. Ao final, uma ensurdecedora salva de palmas que, pouco à pouco, silenciam-se, adormecendo nos braços misteriosos de sonhos encantatórios.

Bellaria, 13 de Janeiro de 2023 - 15:05:17











quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Parasita da escrita

NÃO ME APETECE ESCREVER! 
A ESCRITA ME PROVOCA E EU NÃO LARGO A MALDITA. A FERA ME TOCA COM A TINTA DA SUA DESDITA E, EU, PARA NÃO A VER AFLITA, USO VERBO DE MOCA, E DESDENHO O QUE ME MEDITA. 
SOU PARASITA DA ESCRITA.

Bellaria, 11 de Janeiro de 2023 - 12:55:08


 








quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Revisão

EM BOA VERDADE VOS DIGO QUE TAL COMO AS REVISTAS DO ANO, TAMBÉM EU, REVISITEI TODA MATÉRIA ESCRITA PELA MINHA PESSOA, RENATO CRESPPO, NOS MEUS BLOGUES "AFLUENTESPOETICOS.BLOGSPOT.COM", "ALGUMASASPAS.BLOGSPOT.COM" E O "ETIPSEADERAM.BLOGSPOT.COM" ENTRE ABRIL DE 2015 ATÉ A PRESENTE DATA DE 04 DE JANEIRO DE 2023. NADA MAIS ME RESTA DO QUE DESEJAR A TODOS OS HABITANTES DESTA PÁGINA E DOS DEMAIS BLOGUES, BOAS SAÍDAS E BOAS ENTRADAS E UM ANO NOVO RECHEADO DE COISAS BOAS.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 04 de Janeiro de 2023 - 13:41:12