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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Oblívio no engano XI - Memórias Riscadas

Dia após dia, cresço por fora e diminuo por dentro. O cerco das palavras, que era intenso e denso nas galochas dos meus espaços interiores, vai-se relaxando e, eu, sem querer, vou-me perdendo nos labirintos do seu bosque que, embora frondoso, se vai cerrando, encerrando-me na catástrofe dos seus limites. A memória dos seus trilhos infatigáveis vai sendo riscado, pouco a pouco, pela cegueira incrédula deste envelhecer que modela o equilíbrio da espontaneidade com as mãos calosas do inverno que não perdoa os afetos do seu tempo. Amigo destes colapsos diários, abraço tudo o que posso com esse desejo, quase fanático, de nada perder à visibilidade do meu cotidiano. O espantalho dos seus campos mitigados assusta-se com a impertinência da minha frontalidade ante o desespero da sua inutilidade. Esta é a luta diária do meu cérebro que, nas espigas da criação, floresce, por inteiro, nas rotas do seu futuro precário. Sou a tempestade da bonança na caverna da esperança, esse saber de não ser, sendo, tudo o que se pesa na balança da boa temperança.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 27 de Novembro de 2023 - 17:43:20











quarta-feira, 19 de julho de 2023

Lampejo Diário III - APATIA DA INQUIETUDE

A vida é a sonolência do silêncio. Adoramos a impaciência da futilidade e a resistência da passividade. Desenhamos os argumentos das sequências que filmamos à apoteose da nossa vitimização. Somos coerentes na incoerência e divinizamos a inclemência do nosso subconsciente. Somos viajantes de uma vida irracional e somos empregados do raciocínio que se ausenta para parte incerta, mal a deformação do ruído que nos surpreende o declínio, se estende pela volatilidade da nossa natureza, fria e indômita, quando o cálculo da aspereza se embrulha nos novelos de uma respiração asmática. Não receamos o receio, mas congelamos as fugas da realidade, em frigoríficos de tragédias, insuflados pelos costumes da moralidade aparente. A vida é o consumo astral da impaciência e da impotência no jogo diário dos sumos coletivos. Embebedam-se, sem medo, no completo desconhecimento de qual é o seu prazo de validade. Ombreamos com o prazer da ostentação presumida e revelamos, encantados, a sépia confrangedora da nossa inércia. A mansidão não é um adjetivo mas sim um substantivo implacável. Dele, bebemos a sonolência do silêncio na absoluta apatia da inquietude.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 19 de Julho de 2023 - 16:46:54











sexta-feira, 28 de abril de 2023

Oblívio no engano X - TESTEMUNHO

Se tudo o que sinto
É solidão
E a dor com que pinto
O coração
Não sei
Mas sei
Que provo essa distância
Entre mim e a tua fragrância.

Dias houve em que foste real
Nas portas do meu olhar
Mas eu como um rural
Não te soube encontrar
No sal do mar.

A noite dos teus cabelos
São o sol do meu tear
Que a sede de tecê-los
Em brocados de luar
Roca o ar

Se tudo o que falha
É a paixão
E a dor que se encalha
Por ilusão
Não sei
Mas sei
Que tudo em mim renovo
Ao provar como te provo

Na doçura da pureza
Na candura da certeza.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 28 de Abril de 2023 - 15:17:39











Nas teias de uma alucinação delírica - VI - OSCULAÇÃO

Por entre os sopros, as seivas que são lágrimas, vão e voltam, na não complacência dos chiados que são gritos, alumiando inquebrantáveis, quase que implacáveis - estes teus belos lábios que no ósculo se deflagram.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 28 de Abril de 2023 - 14:59:12











terça-feira, 18 de abril de 2023

Oblívio no engano IX - NA AURORA SERÔDIA

O rolar tenso nas ruas da cidade desanuvia o ar que respiro, bafo sedento de vida marsupial. Escondido das raivas que os dentes trituram, passo pelo teu olhar sombrio e cravo, nele, o tradicionalismo romântico do amor inesperado. Tens o olhar do passageiro sedentário. Passas, observas e absorves o pássaro instantâneo que fotografas no seu voo de libertino inconsciente. Compreendo que assimilaste a metáfora que sou. Alegre, deslumbro os pensamentos com o sol radioso que, de ti, se desprende. Não falamos, nem conversamos. O diálogo fica para o tempo de solidão. Abraçados, na noturnidade, romperemos pela aurora dos sonhos e desenharemos, em miragens de sentimentos, a realidade de um amor que floresceu por entre as roturas doces de uma abundância serôdia.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 18 de Abril de 2023 - 15:08:17











quarta-feira, 22 de março de 2023

Oblívio no engano VIII - CARICATO

Sou grotesco no espelho da manhã, diariamente, que sei eu? Abro, aos olhos da sonolência vadia, as cortinas do tempo, e absorvo os fotogramas solares que me beijam a pele nua. É uma sensação agradável que se mistura com o sentido desagradável dos caminhos perpétuos que palmilho sob a sofreguidão desta idade que me espezinha o limite das fronteiras onde habito e desfruto da pigmentação que me harmoniza a instabilidade emocional. Abro o chuveiro da irrealidade, e, realisticamente, esfrego o corpo com o sabonete do rejuvenescimento, despedindo-me das dores que me corroem a integridade, física e mental. Sou o pavio aceso de um fósforo apagado, e espalho a luz da minha consciência pelas hipérboles noturnas do tecido carnal que expõem, à espiral do desejo, as colheres vitaminadas com as delícias orgânicas do tempo que, vivificadoras, me decompõem a acidez portuária da existência, cujo fluxo é a degeneração desta vida filtrada pelos poros da suavidade burlesca. Grotesco, caricato, burlesco, que melhor sentido se pode oferecer ao sentidos que sem sentido tudo sentem.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 22 de Março de 2023 - 13:48:26











quinta-feira, 2 de março de 2023

MELOPEIA

Na filosofia do gesso
a Razão vira do avesso
quem nasceu por acaso
em fundos de prato raso,
em figuras de estilos,
nas cantilenas dos grilos
que não se cansam de rugas
nem do peso que alugas
aos fatos do corpo velho
e aos pactos da quietude
que, ao nada, aconselho
e, ao tudo, que mude
sob alarmes de pujança
e rituais de elegância
que, na profunda esperança,
são esperas de arrogância.R Cresppo ☧

Bellaria, 02 de Março de 2023 - 13:31:36











por Renato Cresppo

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

O DESGOSTOSO AMOR DE NÃO SE TER

Sentado, em um banco da piazza Marcianò, observo a elasticidade da vida que passa, zumbindo, diante dos meus olhos. Consulto o meu velho Swatch. São horas de me encaminhar para a Vinoteca Foschi. Apanho em minha bolsa tiracolo de lona meu já ultrapassado celular, ligo-o e ponho-o a tocar Smiths e, sem pressa, tenho tempo, levanto-me e caminho por entre árvores sem idade, por entre corpos que dialogam, em conversas banais, em conversas amorosas. Desço pela Via Muggia e, após caminhar por algumas quadras da centenária comuna, entro na livraria Frascaroli Marco, fronteira à vinoteca, e consulto o espaço dedicado aos livros de música erudita. O meu velho Swatch apressa-me. Entro no prédio da vinoteca e dirijo-me ao seu terceiro andar, onde se encontra a sala de reuniões. Ao entrar, a verdade estremece-me o corpo, aumenta-me o ritmo cardíaco – Angiolletta, a sommelier. Ao vê-la, deixo de ver; o mestre enólogo e os demais enófilos são apenas esculturas de carne viva que se enclausuram em um quadro vivo de aparências teatrais. Os belos olhos dela, de uma claridade assombrosa, encontram-se com os meus, acenam-me sorrisos e, eu, corpo dançarino, envio-lhe uma saudação repleta de alegrias que, verdade seja dita, só este meu sentimento de jovem seduzido compreende em toda a sua verdadeira extensão. Neste entorpecimento amoroso, o enólogo é um ruído de fundo, uma voz que nos explica o que não sei explicar, um relatório qualquer que me desgosta o gosto da sua presença divinal. O tempo não tem obstáculos, mas a minha timidez é um obstáculo. A sineta soa, aos meus ouvidos, como uma canção de embalar. Saem todos, saio, eu, sai, ela, saímos para o mundo da consciência aberta, fechando os meus desejos, ocultando, mais uma vez, a razão das minhas razões. Junta-se, alegre, ao seu grupo habitual e, eu, pego no meu corpo, sem destino, e fujo, literalmente, do brilho que me encadeia os passos, lentos e tensos, e escondo-me, em um canto da piazza Giuseppe di Vittorio. Abro a minha bolsa e, dela, retiro a epopeia “Tragico tascabile” do majestoso Guido Ceronetti. Por entre seus poemas sigo por onde nunca seguirei. Eis-me inteiro e dividido entre o gosto de ser amado e o desgosto de não o ser.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 24 de Fevereiro de 2023 - 16:43:39











por Renato Cresppo

sábado, 18 de fevereiro de 2023

A DOR DE AMAR É

Nas lareiras do passado
ardem palavras de sebo
lavrando no seu recado
as ideias claras de Febo
que, em anúncios de sede,
lavam a fome dos medos,
pálidas bocas de rede
que pescam os seus segredos
e desovam argumentos
no cosmos dos seus tormentos.

Com as lâminas da dor
se pincham velhas memórias
e com a salsa do amor
se dança ao ritmo das estórias
que rabiscam as comédias
dos que partem sem Orfeu
e dos que ficam sem rédeas
no jardim de Prometeu
onde o que fogo é
salga a dor de maré.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 18 de Fevereiro de 2023 - 13:49:32












quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

NO RITMO BAMBA

Cada palavra que me imagina
Soletra o samba da vida,
Redige a nota concreta
De uma sequência filmada,
Filme do desencanto
E da travessia louca
Que são estes passos
De raízes firmes
E de frutos selvagens
Que degustam a dor
E fazem do prazer
O doce ritmo do amor.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 08 de Fevereiro de 2023 - 14:32:25












terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Nas teias de uma alucinação delírica - V - O COPO CHEIO DE UM CORPO VAZIO

Este copo cheio de ti
Saúda a memória do teu corpo em festa.
Bebo-o, trago a trago,
Como se fosse os pingos do teu cabelo molhado,
Como se cada gosto seu
Fosse o desgosto do teu aceno.
As lágrimas do teu olhar
Bebidas por estes olhos de gelo,
Fogo que não se vê. Ardem.
São álcool que queima este silêncio.
Bêbado de ti, encharco o tempo,
Este tempo sem ti, sem o gosto deste copo vazio.
Gota a gota, perdeste o sabor,
Mas em cada lágrima que ouço à noite
Vai um rio de nada. 
Um corpo de voz.
Um copo de foz.
Uma foz de tempo.
Vazio. O corpo.
Vazio. O copo.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 07 de Fevereiro de 2023 - 13:13:32











sábado, 4 de fevereiro de 2023

Nas teias de uma alucinação delírica - IV - A FLOR DO TEMPO

Sempre que caminho pelas ruas do tempo, sinto num recanto interior, muito bem escondido, um pequeno jardim com uma única flor plantada pelos filamentos da idade. Umas vezes acendem-se, outras, apagam-se. Nas esquinas do tempo, onde o passado anseia pelo futuro, há um osso de saudades que me recuso a roer. Nunca nos terminais do destino encontrei razões para que a flor se tenha recusado a florescer. É um jardim triste, apesar da muita música com que festejei a alegria de a ter comigo. Embora o tempo seja eterno, eu não o sou. Será que ela o será? A velhice não me apoquenta. A flor provoca-me com tratados de incompreensão.

O corpo vai adormecendo, pouco a pouco, mas ela continua, interna e sorridente, perante o desespero de não encontrar a semente justa que seja o alimento que a desperte e me emagreça a tristeza que me enfeita os lábios das dores, flocos de neve que se vão derretendo, ao sentirem os fios solares soprarem-lhe as últimas gotas de vida. Talvez, eu seja um floco de neve que, ao derreter-se, liberte, finalmente, a glória perfumada desta flor que me desconhece e que não chora, sendo um sonho que a morte do meu tempo conduzirá, certamente, ao seu florescimento triunfal. Porém, eu não sou quem pareço, e a flor não o sabe. A bebedeira do meu último suspiro será a última melodia que remará com a brisa do tempo.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 01 de Fevereiro de 2023 - 09:01:24












quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Oblívio no engano VII - OS DESCENDENTES DO TEMOR DA VIDA

Pertenço ao cantinho dos vultos que estendem a mão ao Futuro, porque o passado os transformou em descendentes do temor da vida. São apenas números no arco do triunfo dos endividamentos, santificados pelo ostracismo a que são vetados todos os que não se abrigam nas cavernas dos que sopram os ventos da sua estabilidade, graças à instabilidade dos que professam as magias falsas da salvação cotidiana. Cansei-me das cantigas dos que louvam as louva-a-deus dos mandatos irrefletidos nos espelhos das vaidades individualistas dos que fingem que são, o que não sendo, passam por ser o livre arbítrio das mentiras que cheiram às lixeiras das verdades em que já ninguém acredita, a não ser eles mesmos, agarrados que estão, aos fluídos endividados das suas dúvidas abstratas, defendidas pelos carrapatos das ignorâncias ideológicas e pelas realidades que são o monte Evereste da falência coletiva. Não importa afirmar que não somos o que éramos noutros tempos, importa sim avaliar o que seremos se continuarmos a ser a fundição dos planos, fundidos nas sepulturas da mendicidade coletiva no reino dos reinados abstratos. Pouco me importam as vigílias dos cérebros empedernidos na vigência de um reino simulado. O que se aclama não são realidades, mas abstrações de cérebros conflituosos e de afrontamentos paralisados pela ignorância de uma fragrância luminosa. Quando todos acordarmos para a claridade da nossa sina, saberemos ouvir no fragor de um desmoronamento, o quadro simbólico de um retângulo ridículo, esfumando-se na espuma da inexistência. Será a água e não o azeite que virá ao de cima. Eis a verdade de uma outra verdade que a verdade não deixará omitir.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 01 de Fevereiro de 2023 - 09:01:24











por Renato Cresppo

Lampejo Diário - II

Viver
Não é a ponte do escurecer.
Passeio de passos leves,
Voos secretos de asas breves,
Risos de crianças adultas
No poente das lágrimas ocultas,
Sonhos que se entrelaçam
Entre margens que se abraçam
Sem que os ventres maduros
Fujam por entre os segundos obscuros,
Sem que o rio, aves corredoras,
Lave as suas águas em tinta rubra,
Para que se conservem límpidas e acolhedoras
Aos corpos de quem o descubra 
E quem nele queira marulhar
Com as dores do luar.
E acordar,
Com a ponte em outro lugar.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 01 de Fevereiro de 2023 - 16:11:58











por Renato Cresppo

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Nas teias de uma alucinação delírica - III - O ALAÚDE E EU

Estou sentado em um degrau de um dos prédios de uma rua do centro storico de Rimini. Do meu lado esquerdo, encostada à porta, jaz um velho alaúde; do meu lado direito, sobre o degrau, descansa uma garrafa de vinho tinto seco que vou bebericando de quando em vez. Os meus olhos, ligeiramente enevoados, acompanham o estranho movimento ondulante da rua. Tento pensar em algo que me distraia, mas os pensamentos, primeiro, aglomeram-se, incandescentes, depois, esfumam-se como se fossem argolas de fumo, construídas à partir de um cigarro que se imagina, de um tempo que se evapora por entre os passos tumultuosos de corpos que se envolvem com os ritmos da noite, em um frenesim de contos inacabados. Coloco o alaúde entre as minhas pernas, afago-lhe o corpo envelhecido pelo uso e permito que os meus dedos perturbem o sossego das suas cordas, sequiosas de propagarem pela noite os poemas sonoros do seu encanto. O alaúde e eu somos um corpo único, beleza das belezas musicais que bandos de jovens vão ouvindo, passando, ou sentando-se, à nossa frente, em um semi-círculo de jovialidade noturna. Os meus olhos fixam-se em uma janela de um prédio diante de nós. Abre-se, de par em par, deixa que os sons penetrem de mansinho pelos sonhos de um sono desconhecido. Dos meus dedos soltam-se notas que, de início, flutuam, para, depois, voarem como pássaros em busca dos seus limites despovoados, essa sensação de liberdade que envolve as pupilas do meu prazer e desfilam como imagens cinematográficas de um filme em que o argumento é este vagabundear sonoro pelas veias da vida. Há jovens que bebem, há jovens que dançam por dentro das suas memórias difusas, como que espelhando pela noite dentro as sombras vinícolas dos seus desejos mais ardentes. Uma espécie de magia negra apoderou-se do meu corpo que, lentamente, se foi diluindo até que, eu, e o alaúde, em metamorfoses de um tempo desconhecido, abraçamos o voo discreto do corvo de Poe que, sobre o parapeito da janela, segredou aos ouvidos da noite, "nunca mais". E nunca mais, eu, e o alaúde, somos.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 08 de Janeiro de 2023 - 15:47:10











por Renato Cresppo

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Pinceladas de uma Intimidade Liberta - III - O RITMO DA CIRCULAÇÃO

Soprando os sopros de fumaça de um Fortuna, um tabaco espanhol razoavelmente agradável, encontro-me sentado em um dos degraus da Astra Theater Bellaria, e enquanto apago a guimba no degrau inferior, ouço os sinos que anunciam o início de mais uma das suas sessões. O som transporta-me a um destes dias em que seguia no trem da linha Ferrara-Rimini, batia a noite o seu turno. A composição parou na Estação Bellaria. Dela, saiu uma jovem de cabelo encaracolado, blusa esverdeada e calça jeans. Parou defronte de uma das janelas do trem e, com o olhar inundado de tristeza, enviava, com as pontas dos dedos, beijos soltos de saudades súbitas, a saltitarem de frescuras imensas. Sem que pudesse evitar, fui contagiado pela tristeza e embalsamei, no meu olhar, Cupidos do tempo em que amei amores que não sei. A separação denotava desejos de uma união que se fortalecia na coragem de viver cada minuto, cada segundo, os pequenos e eternos prazeres de abraçar os abraços da ternura e de beijar os beijos das suas intimidades. Só se avalia um adeus quando as portas de uma despedida se abrem à solidão do silêncio. Parte-se para um destino concreto, embrulhado em palavras de segredos e mistérios que acondicionam o regresso ao parque dos sonhos que nascem e reconfortam o corpo entre os lençóis de uma ausência, distância imaginária que, em um dia qualquer, levantará o nevoeiro que paira sobre a fluidez de uma chama amante que amanhece ao entardecer.

Estas sequências de uma peça de teatro que se repetem em muitas sessões, são, inúmeras vezes, pausas de um tempo que escapam aos seus enquadramentos, ameaçando as debilidades da sensibilidade amorosa com a secura de paisagens que amolecem em transições de luz baixa, transcendendo as realidades com os subúrbios dos esquecimentos, dos abandonos que ferem e desarmam todo um futuro que, subitamente, é passado.  O trem reacendeu a sua circulação e, com ele, recomeçou o ciclo das vidas dos que nele ficaram. Observei a agilidade do tempo que, no seu bojo, transporta milhares de atores que representam o seu papel neste grande palco da vida que veste o universo com as partículas da nossa bioeletricidade. Somos amantes, amados ou não, porque esse é o ritmo do nosso coração.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 24 de Janeiro de 2023 - 15:11:55











sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Oblívio no engano VI - Nas viagens querençosas

A manhã é um verbo hesitante. A métrica é todo o tempo que o devora. Os seus olhos, perdidos na emancipação do dia, revelavam as carícias do seu segredo carnal. Verdes, como uma campina viçosa, as suas pupilas despertaram, em mim, uma súbita sociabilidade de tudo ser para que o seu corpo elegante, os seus lábios, rubros e sóbrios, se esmerassem em um sorriso acolhedor. A substância da vida é uma clara surpresa quando nos coloca diante de um momento festivo que pousa sobre a criação dos pensamentos e desabrocham no sentido estético de um olhar que me absolveu de todos os prantos que o silêncio consome. Acariciei o olhar, despi-me do seu brilho e, viajante urbano, viajei afetuoso.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 20 de Janeiro de 2023 - 14:32:26











terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Lampejo Diário - XVIII - PINTANDO PALAVRAS

A vida não cansa, descansa
Nos batentes da dor.
A sua caligrafia é uma ironia,
Gasolina de longas palavras
Que se gasta em viagens de medo,
E, em noites de amor,
Se a nudez do cheiro
For um neon de emoção
E um lustro de tradição
Na morte da solidão.
Os batentes abrem-se à cor
E o quadro do amor
Escurece a rotina da idade
E acende a chama da eternidade.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 17 de Janeiro de 2023 - 14:55:56











por Renato Cresppo



sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Pinceladas de uma intimidade liberta - II

À noite, deitado na cama, os dedos, ágeis, dedilham, amorosos, as cordas sensíveis da foz dos veludos rios que, um a um, desembocam num infinito de oceano. Uma miríade de sons desconhecidos sussurram no sossego da noite. Embalado, afago, num deserto de dunas, vales e depressões, e, em cada eco, as diásporas do teu hálito em notas de bálsamo, escorrendo por cada nota do teu concerto, do prelúdio, por entre uma dramática abertura, um scherzo que emenda-se à fuga, por cada movimento precisamente conduzido, na maestria de um maestro do tempo, contando cada batida. Ao final, uma ensurdecedora salva de palmas que, pouco à pouco, silenciam-se, adormecendo nos braços misteriosos de sonhos encantatórios.

Bellaria, 13 de Janeiro de 2023 - 15:05:17











quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Parasita da escrita

NÃO ME APETECE ESCREVER! 
A ESCRITA ME PROVOCA E EU NÃO LARGO A MALDITA. A FERA ME TOCA COM A TINTA DA SUA DESDITA E, EU, PARA NÃO A VER AFLITA, USO VERBO DE MOCA, E DESDENHO O QUE ME MEDITA. 
SOU PARASITA DA ESCRITA.

Bellaria, 11 de Janeiro de 2023 - 12:55:08


 








quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Revisão

EM BOA VERDADE VOS DIGO QUE TAL COMO AS REVISTAS DO ANO, TAMBÉM EU, REVISITEI TODA MATÉRIA ESCRITA PELA MINHA PESSOA, RENATO CRESPPO, NOS MEUS BLOGUES "AFLUENTESPOETICOS.BLOGSPOT.COM", "ALGUMASASPAS.BLOGSPOT.COM" E O "ETIPSEADERAM.BLOGSPOT.COM" ENTRE ABRIL DE 2015 ATÉ A PRESENTE DATA DE 04 DE JANEIRO DE 2023. NADA MAIS ME RESTA DO QUE DESEJAR A TODOS OS HABITANTES DESTA PÁGINA E DOS DEMAIS BLOGUES, BOAS SAÍDAS E BOAS ENTRADAS E UM ANO NOVO RECHEADO DE COISAS BOAS.❞R Cresppo ☧

Bellaria, 04 de Janeiro de 2023 - 13:41:12