Ontem, iniciei o dia por ir almoçar à cervejaria/cantina La
Birra di Paolino, no centro de Misano. A gentileza é apanágio de quem nos
atende e a variedade o seu hábito. Depois, entretive-me a ler, no jornal local,
a entrevista com o escritor Gorgiotti Miancoli, a propósito do lançamento do
seu mais recente livro "Enegri".
Gostei da entrevista. Gosto da escrita de Gorgiotti. A sua linguagem é
um fascínio. Os perfumes africanos e moçambicanos envolvem-nos o olfato do
olhar e ilustra-nos o pensamento com as mangueiras e os cajueiros da nossa fome
literária. A sua escrita é uma piroga nos rios das palavras e a originalidade
do prazer africano habita as palhotas da vida. Leio Gorgiotti como leio-me a
mim próprio. Saio a luar, saio ao afogamento da tristeza e descubro, em cada
rota do tempo, as trovoadas e a chuva da
minha sede nas picadas do tempo.
Hoje, sou tudo e nada. Consumo os pensamentos que trago à
flor da pele e dispo a sua nudez com os trajes da sua natureza inóspita. A
chuva é a minha transpiração e, o ritmo dos seus milímetros, a respiração
sinuosa da serpente que se move entre o silêncio do nada e o rufar do tudo. O
dia caminha para a noite e, eu, caminho para o universo do nada, descobrindo,
em cada passo, a urgência de transferir sentimentos para esse mundo vago de
sonhos que tudo são e nada valem. Sou um segundo nas asas das horas. Voo sem
voar, e encontro-me na fronteira onde o tudo é nada. Assim sou, assim
caminho.❞R Cresppo ☧
Bellaria, 09 de Novembro de 2016. 18:23:12
por O Abre Aspas
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