Perder tempo! Tudo o que faço nesta vida de ermitã é perder
tempo. Entro no metrô, observo pessoas cheias de nada, ouço conversas a que sou
alheio, saio do metrô, entro em um carro, vazio de pessoas, cheias de tudo o
que nada é, ouvindo conversas que escorregam pelo tempo como se fossem moinhos
moendo águas de pensamentos dispersos. A cidade, fria e chuvosa, passa por mim
ou passo eu por ela comigo lá dentro, dentro de uma resposta que é a resposta
de não haver. Abandono o carro e sinto uma saudade, não sei bem de quê. Caminho
cansado de estar cansado com um cansaço que é esta distância de ver para lá do
que não vejo. Sou uma simulação de tempo, um reformado que adormece o silêncio,
reformado que acorda a idade de não a ter, por a ter perdido no longínquo
abraço de uma despedida que se saúda a si mesma. A rua, esta rua por onde vou,
sem ir, é um movimento opaco na transparência de tudo ver, vendo que a vida é
uma floresta de diálogos que esconde no seu labirinto de metáforas, as
metamorfoses de um eco que me murmura a idade feminina que envelheceu o vigor
de uma manhã noturna. Meu adeus! O tempo que perdi é a ciência exata que se
vestiu com este tapete celular onde toda a inocência são pedaços de fome humana
com que sacio este corpo que se arrasta pela idade de não a ter. Tudo o que
resta é perder tempo. Tempo vestido de nada. ❞R Cresppo ☧
Bellaria, 21 de Junho de 2017. 10:47:11

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