Domingo. O sol que espia por entre as formas de algodão mal se vê e, eu, mal me distingo na apoteose do nada. Desligo o rádio e dirijo-me à frente da minha casa, dando as caras à via Mar Jonio, partindo sem rumo mas com certa tendência por buscar a via Uso. O fiume Uso sempre me traz algo de nostálgico, melancólico, mas que por tantas vezes busca com dificuldade um longínquo e quase frívolo grão de esperança dentro deste ser, que, talvez já não busque qualquer outra coisa senão uma tergiversação vã, e, de certa maneira cômica para com o passar dos dias num desígnio que por certo se aprochega do fim. O destino, ao que parece, não pode abandonar seus contornos truculentos; voa em minha direção um bloco de jornal impresso que enrosca por entre minhas pernas. Nem chutar me apetece nesta caminhada que se sente como um flutuar com pesos. Apanho a desgraçada e tão amassada publicação. Leio notícias. Respiro sobre elas. A fibra de quem governa é nenhuma. O Governo é displicente, ignorando o sentido de Estado. Parece um grupo dramático de teatro, representando a comédia dos seus próprios atos. Confrangedor, na melhor da hipóteses. Este Domingo me aborrece ainda mais do que todos os outros. Sou carteiro de mim mesmo. O telegrama é um sonho que se despede. Todos os sonhos são assim. A Morte é a Vida que não se sonha. Saio, saindo de mim mesmo e regresso, alheio, ao encontro de todos os meus desencontros. Dos encontros, o sonho que se despede, se despe saindo de mim mesmo.❞R Cresppo ☧
Bellaria, 16 de Junho de 2024. - 16:39:58
por Renato Cresppo
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